As regras entraram em vigor em setembro e deixou cantinas e bares escolares sem qualquer alimento prejudicial para a saúde. Croissants e batatas fritas são alguns dos exemplos do que passou a ser proibido no contexto escolar para dar lugar a alternativas como pão com queijo ou sandes mais saudáveis. Alunos admitem que não basta proibir e que a procura destes produtos passou a ser feita fora da escola.
As refeições rápidas, designadamente hambúrgueres, cachorros-quentes, pizzas e lasanhas são alguns dos alimentos que passaram a ser proibidos nos bares das escolas públicas. As alternativas passam por sandes com queijo, ovo, fiambre, atum ou outros peixes de conserva e produtos hortícolas como alface, tomate, cenoura e couve roxa.
A lista das proibições inclui bebidas, onde passaram a ser proibidos refrigerantes de fruta e bebidas energéticas. Assim, os bares são obrigados a ter água potável gratuita, assim como garrafas de água, leite e iogurtes, meio-gordo ou magro.
As sobremesas doces, como a mousse de chocolate, devem dar lugar à fruta, e os chocolates e barras de cereais podem ser substituídos por snacks de fruta desidratada sem açúcar ou snacks à base de leguminosas, que contenham pelo menos metade de leguminosas e um teor de sal inferior a um grama.
Apesar da proibição, alunos admitem que a procura desses produtos continua a existir nas imediações das escolas. Embora não fizesse esta alimentação habitualmente, Silvia Pacheco, de 16 anos e estudante na Escola Básica e Secundária Lousada Norte, em Lustosa, refere que esporadicamente comprava estes produtos no bar da escola, como por exemplo croissants.
“Alguns jovens acabam por comer fora dela e, se os consumissem na escola, os pais poderiam ter o controlo desse consumo.” – Sílvia Pacheco
Sílvia Pacheco
“Não comprava muitas vezes e desde que foi proibido não saí da escola para comprar. Mas penso que não é positivo proibirem os bolos na escola, porque alguns jovens acabam por comer fora dela e, se os consumissem na escola, os pais poderiam ter o controlo desse consumo”, alerta.
Também Sofia Pacheco, de 16 anos e estudante do mesmo estabelecimento escolar, partilha da opinião da colega: “acho que proibir não resolve o problema e comer algo doce de vez em quando não faz mal. Estudamos muito e, por vezes, precisamos de um bocadinho de açúcar, principalmente em dias de teste”.
“Estudamos muito e, por vezes, precisamos de um bocadinho de açúcar, principalmente em dias de teste.” – Sofia Pacheco
A estudante considera ainda que “não é por não ter doces nas escolas que não vamos ter problemas de saúde, porque temos acesso a todos esses produtos fora da escola e até em casa”.
Por sua vez, Marta Neto, de 16 anos e estudante na Escola Básica e Secundária Lousada Norte, revela não consumir os produtos agora proibidos e vê na medida uma iniciativa positiva para o futuro dos jovens.
“Mesmo que procurem estes produtos fora da escola, o acesso já não é tão imediato.” – Marta Neto
“Penso que é uma boa forma de tentarem que os jovens tenham melhores hábitos alimentares. Mesmo que procurem estes produtos fora da escola, o acesso já não é tão imediato e pode criar hábitos mais saudáveis”, termina.
O Programa Nacional para Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) enquadra-se num dos onze programas de saúde prioritários do Plano Nacional de Saúde e pretende contribuir diretamente para a redução dos fatores de risco relacionados com as doenças não transmissíveis, em particular a obesidade infantil.
O PNPAS visa promover o estado de saúde da população portuguesa, atuando num dos seus principais determinantes, a alimentação. Um consumo alimentar adequado e a consequente melhoria do estado nutricional dos cidadãos têm um impacto direto na prevenção e controlo das doenças mais prevalentes a nível nacional.
A estratégia deve, no futuro, permitir disponibilizar alimentos promotores da saúde e bem-estar a toda a população, ser capaz de criar cidadãos capazes de tomar decisões informadas acerca dos alimentos e práticas culinárias saudáveis.
Procura não aumentou tanto quanto o esperado
Apesar da proibição dos alimentos não saudáveis nas escolas, na visão de comerciantes e estabelecimentos hoteleiros a procura não aumentou tanto quanto o esperado. Segundo Helena Pereira, proprietária da pastelaria “Boquinha Doce”, junto à Escola Básica e Secundária Lousada Norte, “noto que os alunos não procuram estes produtos, mesmo com a proibição nas escolas, não começaram a pedir mais”.
“Ao contrário do que imaginei, não comecei a vender mais. Acreditei que fosse melhorar um pouco as minhas vendas, mas manteve-se igual, não senti nada. Pelo contrário, está muito pior”, confessa.
“Acreditei que fosse melhorar um pouco as minhas vendas, mas manteve-se igual, não senti nada.” – Helena Pereira

A comerciante acredita que mais do que quererem ser saudáveis, “falta aos alunos poder monetário para esse consumo fora da escola. Se fosse noutros tempos, seria uma enchente e isso não aconteceu. São poucos os que procuram as gomas ou as refeições à base de cachorros ou pizza, apenas um grupo muito pequeno continua a procurar”.
“Também acredito que alguns querem mesmo ter uma alimentação mais adequada, mas penso que seja uma percentagem mínima. Na escola era tudo muito mais barato e não podemos fazer face a esses preços”, lamenta.
Por sua vez, José Ferreira, proprietário do estabelecimento “Kaffa School Caffé”, localizado há cerca de 14 anos junto à Escola Secundária de Lousada, testemunha que os alunos envolventes “sempre procuraram muito estes produtos” e considera que “não está relacionada apenas agora com a proibição nas escolas”.
“Sempre procuraram muito estes produtos, não está relacionado apenas agora com a proibição nas escolas.” – José Ferreira

“Não notei nenhuma melhoria, os alunos vêm com a mesma regularidade e vendemos os mesmos produtos que vendíamos antes. Segundo o feedback deles, não é pela proibição nas escolas que procuram isso cá fora. No que diz respeito a vendas significativas, não notamos grandes diferenças”, termina.