por | 17 Jun, 2022 | Educação, Sociedade

A atuação fundamental da escola na orientação vocacional

O estudante passa na adolescência por um processo de transição onde as angústias e incertezas se manifestam derivado ao momento que se avizinha. Momento de escolher qual área profissional seguir, seja no 9º ano como no 12º ano. O jovem precisa de decidir qualquer carreira seguir e, para tal, conta com o auxílio de psicólogos da escola e os respetivos professores. Ademais, o papel exercido pelos encarregados de educação é fundamental. De forma a elucidar, O Louzadense obteve o testemunho de três psicólogas dos diferentes agrupamentos de Lousada e duas professoras. 

As constantes mudanças no mundo do trabalho acumulado ao aumento significativo da oferta de cursos de nível superior ou de outras saídas estão a contribuir para tornar o desafio ainda maior. Nesse sentido, a orientação profissional pode se tornar um apoio importante do adolescente no momento da escolha e deve ser incluída nas bases curriculares. 

O adolescente, nesta fase, vai-se deparar com muitas mudanças num momento de mudança na sua vida. Pois, a escolha profissional coincide com um período de intensas crises que é a adolescência. A orientação é bastante importante e útil, na medida em que ajuda o jovem a obter informações a respeito de si, da sua realidade e do mundo do trabalho. 

A escola serve como referencial para os jovens, pois junto com a família contribui para formação humanística e a promoção da cidadania. Professores, diretores, psicólogos possuem o desafio de desenvolver as competências necessárias para tornarem o discente apto a realizar as decisões. Decisões essas que serão as primeiras a ser tomadas, levando em consideração o resto da vida. 

É a partir da escola que o indivíduo faz a transição para o mercado de trabalho e, nesta sequência, O Louzadense contactou três psicólogas dos diferentes Agrupamentos de Lousada e uma professora. As perguntas foram: 

  1. A Orientação Vocacional é prestada por psicólogos na escola. Em que medida funciona o seu trabalho para com os alunos, neste aspeto?
  2. Quais são os objetivos principais da intervenção dos psicólogos na orientação vocacional?
  3. Que dicas disponibilizaria para uma escolha consciente?

Psicóloga Ângela Ferreira – Agrupamento de Escolas de Lousada Oeste

1- A Orientação Vocacional é um processo contínuo e integral, com o principal objetivo de preparar o adolescente para uma escolha consciente relativa ao seu futuro, quer seja escolar ou profissional.

Esta exploração, permite ao aluno que chega a um final de ciclo (normalmente, o 9.º ou o 12.º ano) a tomada de uma decisão. Para isso são realizados testes psicotécnicos, são uma parte deste processo, onde se avaliam, acima de tudo, três áreas: aptidões (competências reais do aluno nas diferentes áreas), interesses (os seus gostos, motivações e como projeta a sua vida profissional futuramente) e valores (o que valoriza na sua futura vida profissional). Onde se inicia o trabalho em sessões em grupo e terminamos com sessões individuais.

Paralelamente fazemos a exploração do self do aluno, onde é fundamental conhecer bem o estudante e o seu ambiente escolar e social. Não esquecemos os pais, estes são imprescindíveis parceiros neste processo. E desta forma temos sessões de divulgação e explicação de como se irá decorrer o processo.

Para além destes procedimentos, temos   como atividades como “Aprendem por um Dia” (para alunos do 9ºano) e visita á “Feira Qualifica” – Feira de Educação, Formação, Juventude e Emprego (12º anos), estas atividades são realizadas em parceria com a Câmara Municipal de Lousada.

No final, discutem-se com o aluno todos os aspetos significativos, explora-se o grau de informação do aluno, a sua maturidade em relação à carreira, a sua capacidade de tomada de decisão, e até mesmo dúvidas que o aluno possa ter. 

Para dar a conhecer aos alunos o que cada profissional realiza nas suas atividades, realizamos a atividades “Conversas com…” onde convidamos vários profissionais de diferentes áreas, para nos falarem do seu percurso académico e explicarem como executam as suas atividades.

A decisão é sempre do aluno, pois o papel do psicólogo é orientar o adolescente a conhecer-se e a conhecer suas próprias habilidades e paixões. Para que o orientando possa fazer a escolha mais adequada para a sua profissão.

2- É levar o adolescente ao autoconhecimento e à construção de uma a carreira pessoal, sendo que o contributo do Psicólogo para essa descoberta e construção poderá estar presente não apenas com uma motivação extrínseca (ex. procura de emprego), mas também por motivações intrínsecas (ex. auto-realização).

 3- O adolescente deve ter tempo para pensar, e para se conhecer, ou seja, pensar no que gosta de fazer, no que sabe fazer, no que aprende com mais facilidade, nas experiências e como visualiza o seu futuro.

Pensar no que gosta de fazer, no que sabe fazer, no que aprende com mais facilidade, nas experiências que já viveu e gostou como de atividades desportivas e como visualiza o seu futuro;

Deve ter espírito curioso, pois todos os anos surgem novas profissões. Assim, devem conversar com conhecidos que tenham as profissões com que se identificam.  Deve perguntar pelo percurso que fizeram até terem essa profissão, pelo seu dia-a-dia, condições de trabalho, atividades e instrumentos da profissão.

E hoje em dia, podem sempre fazer pesquisas na internet sobre essas profissões e sobre os percursos universitários ou formativos necessários para os desempenhar.

Pode também realizar um exercício simples que é imaginar o que estará a fazer daqui a dez anos, numa determinada profissão e analisa as suas vantagens e desvantagens.

Mas se precisares de ajuda neste processo, podes sempre procurar a(o) psicóloga(o) da tua escola.

Psicóloga Carolina Carvalheira – Agrupamento de Escolas de Lousada

1- A orientação vocacional é um dos domínios da intervenção do psicólogo em contexto escolar. No Agrupamento de Escolas de Lousada, esta intervenção tem um caráter transversal e multidisciplinar ao longo do percurso escolar dos alunos, evitando que se concentre apenas em momentos chave de tomada de decisão. Desta forma, o Serviço de Psicologia e Orientação desenvolve um conjunto de atividades com os alunos do ensino pré-escolar ao ensino secundário, sempre em articulação com outros intervenientes da comunidade, docentes, pais e instituições parceiras. A organização, planificação e orientação dos processos de desenvolvimento vocacional e de carreira junto das crianças e adolescentes, contempla as necessidades específicas de cada faixa etária e os momentos específicos de tomada de decisão sobre os percursos escolares e profissionais. Por exemplo, com os alunos mais novos, são desenvolvidas atividades, nomeadamente, com recurso ao jogo lúdico com vista ao desenvolvimento da curiosidade sobre o mundo das profissões; com os alunos mais velhos são promovidas ações, nomeadamente, de contacto direto com o mundo do trabalho, como o job shadowing. Nos anos de tomada de decisão, 9.º e 12.º, é desenvolvido um programa estruturado que contempla um conjunto de ações intencionais, integradoras e facilitadoras da tomada de decisão.

2 – No contexto atual, a intervenção em orientação vocacional perspetiva-se como a capacitação dos alunos para a construção e gestão equilibrada dos seus projetos de vida e de carreira, convocando para tal a pessoa e o seu sistema de relações significativas, através da aquisição de estratégias de:

Autoconhecimento – potenciar uma perceção adequada de si próprio, das suas aptidões e interesses;

Interação eficaz – promover uma atitude facilitadora da comunicação e da interação com diferentes pessoas e realidades;

Gestão da informação – promover estratégias adequadas para procura, recolha, análise e validação de informação relevante para o seu percurso;

Gestão da mudança – potenciar a curiosidade, a autonomia, a atitude cooperante, a confiança; desenvolver a capacidade de adaptação à mudança, a novos desafios, a ser um agente de mudança nos diferentes contextos de vida.

Decisão – favorecer o planeamento e a tomada de decisão autónoma, promover a capacidade de analisar e avaliar as diferentes alternativas existentes, ponderando as consequências das opções no imediato e a longo prazo, com vista à tomada de decisão informada e consciente.

3 – Uma escolha consciente é uma escolha informada e refletida. É fundamental que os alunos adotem uma postura ativa e intencional, com recurso ao apoio da família, da escola, dos amigos e da sociedade em geral. O lema será “Torna-te no gestor da tua carreira!” seguindo as coordenadas: sonha, procura, pergunta, duvida, luta, experimenta, reflete, decide.

Psicóloga Marina Ferreira – Agrupamento de Escolas Lousada Este

1- O nosso trabalho começa em Dezembro e é prolongado ao longo do ano letivo. Trabalhamos todos em conjunto, os psicólogos dos quatro agrupamentos com os psicólogos da autarquia, numa intervenção concertada que é levada a cabo por aproximadamente doze sessões por turma ao longo do ano. Temos um programa de intervenção chamado “orienta-te e segue”, que tem protocolado todos os passos que devem ser seguidos (na generalidade, é claro que, depois cada agrupamento ajusta às suas necessidades).

Numa primeira sessão fazemos um contato com os encarregados de educação, para eles próprios entenderem e ajudarem no processo de tomada de decisão.

Depois aplica-se entrevistas, questionários, inventários e /ou testes específicos para determinar, individualmente, o que cada aluno pretende, que capacidades / competências tem e quais as suas motivações face ao percurso profissional. Qual o caminho a enveredar no ensino secundário.

Todas as sessões são, na sua maioria dinamizadas no grupo turma, com vista a ajustar as expectativas dos alunos à decisão final, tendo por base o tal programa “O&S”.

Colaboramos também com o “aprendiz por um dia”, que nada mais é do que uma atividade em parceria com a autarquia que pretende que os alunos experimentem por um dia a sua profissão de sonho.

Este ano tivemos aproximadamente 80 alunos a realizar esta atividade. Proporcionou-se a cada aluno interessado a possibilidade de experimentar profissões como médico, enfermeiro, auxiliar de ação médica, mecânico, eletricista, veterinário, empregado de mesa / bar… entre outras profissões igualmente interessantes.

Posteriormente o trabalho flui consoante a expectativa do aluno: os alunos que pretendem cursos científico humanístico são convidados a simular um ato de matrícula para perceberem as opções de disciplinas que têm, mesmo dentro dos cursos que pretendem.

Os alunos que pretendem cursos profissionais, são encaminhados para opções dentro e fora do concelho. (também convidamos algumas instituições / escolas ou centros de formação para dar a conhecer a oferta formativa através de workshops ou palestras ao longo do ano letivo).

Por fim damos a conhecer toda a oferta formativa da zona envolvente do concelho de Lousada, para que possam escolher em consciência o que será melhor para cada um deles.

A par deste percurso de orientação vocacional nas turma e em grupo, há ainda o reforço individual a quem está mais indeciso, com sessões personalizadas e orientadas para cada aluno / encarregado de educação, com o intuito de decodificar ao pormenor os interesses de cada um e tirar dúvidas o mais cirurgicamente possível.

2- Os objetivos principais, numa primeira abordagem prendem-se em conhecer cada aluno, perceber as suas expectativas, interesses e vocação. Depois estudar qual o projeto de vida de cada um, tendo em conta uma grande decisão: curso científico humanístico ou cursos de carácter profissional?

Esta é, sem dúvida, a primeira questão a abordar. Dar a conhecer os dois percursos, quais as características de cada vertente e depois, com calma, estudar opções e esmiuçar objetivos: o que me imagino a fazer no futuro tendo em conta as minhas aptidões, mas mais importante que isso, o que me faz feliz?

Dar a perceber que os encarregados de educação também são fundamentais nestas decisões (porque conhecem os alunos melhor do que ninguém). Sendo que o ideal é haver auxílio, compreensão e harmonia entre ambos, porque nem sempre as expectativas dos pais correspondem às decisões dos filhos (é preciso trabalhar isso durante o ano letivo).

3 – Compreender o que gosta ou não de fazer, o que se imagina a fazer sem ser por obrigação;

– Perceber as suas potencialidades: o que faço bem, com rigor e que me faz sentir realizado?

– Colocar os encarregados de educação a par do processo, para, com calma, compreender e ajudar na decisão;

– Dar a conhecer, aprofundadamente todas as opções, mesmo as que não estejam nos seus horizontes (pelo menos ficam a saber o que existe);

– Escolher conscientemente, saber bem para o que vai. Não florescer expectativas, isto é, ser realista nas suas escolhas.

Professora Isabel Machado do Agrupamento de Escolas de Lousada Este

As perguntas foram: 

  1. Hoje em dia é reconhecida a importância da Orientação Vocacional, sendo os professores essenciais neste processo. Para ajudar os alunos, o que professores desenvolvem ao longo do ano letivo?
  2. De que forma transmitem informação e conhecimento aos alunos acerca deste tema?
  3. Que dicas disponibilizaria para uma escolha consciente?

1- Na escola procuramos, acima de tudo, que os alunos tenham acesso a todas as informações sobre as várias opções de escolha e as implicações que essas escolhas têm.

São disponibilizados diversos materiais sobre as profissões que existem, mesmo aquelas menos comuns. 

Assim, pretende-se que todos eles tenham a informação necessária para poderem fazer a escolha mais esclarecida possível.

Além disso, investe-se muito no autoconhecimento, uma vez que será esse o melhor ponto de partida para os alunos saberem qual será a melhor opção para eles. 

Por vezes, de acordo com o conhecimento que temos de alguns alunos, podemos referir algumas características pessoais que eles possuem e que podem ser adequadas a uma determinada área.

No meu caso, enquanto diretora de turma, nas reuniões com encarregados de educação, também disponibilizo todas informações necessárias para que possam apoiar os seus educandos nesta decisão.

2- Em conjunto com os serviços de psicologia e orientação vocacional, são preparadas várias atividades em que os alunos têm a oportunidade de conhecer sites, responder a questionários, assistir a workshop e realizar visitas de estudo. 

Além disso, em parceria com a Câmara Municipal, os alunos têm, ainda, a oportunidade de participar no projeto “Aprendiz por um dia”, em que acompanham o dia de um profissional da área que eles selecionaram.

Com efeito, estimula-se o debate, para que todos possam colocar questões e tirar dúvidas. Em alguns casos, faz-se uma orientação mais individualizada, em particular quando há muitas dúvidas sobre o caminho a seguir.

3- Em primeiro lugar, é preciso não fechar portas, ou seja, na dúvida, deve optar-se pela área mais abrangente. 

Em segundo lugar, não esquecer que serão as notas do ensino secundário que vão ditar a verdadeira escolha: o curso a seguir no ensino superior ou a opção pelo mundo do trabalho, logo no final do secundário.

Em terceiro lugar, o maior investimento que se pode fazer é em nós próprios, por isso devemos procurar viver experiências que contribuam para desenvolver todo o nosso potencial.

Por fim, dar o melhor de nós em tudo que fazemos.

O sucesso na nossa vida depende não só dos caminhos que optamos por percorrer, mas, sobretudo, da forma como os percorremos.

1- Ao longo do ano letivo, os professores vão encetando conversas e/ou fornecendo informações e/ ou esclarecendo dúvidas sobre os cursos existentes, as saídas e os procedimentos a tomar. Também, muitas vezes, encaminham os alunos para a psicóloga, quando se apercebem das dúvidas ou desorientação ou mediante o conhecimento que vão tendo dos objetivos dos alunos. 

Paula Mendes – Professora do grupo 300/320 e Coordenadora dos Diretores de Turma

2- A informação e o conhecimento são transmitidos oralmente ou através de indicação de links ou mesmo de sessões com a psicóloga. Outras vezes, principalmente, no 12.º ano, assistem a sessões online promovidas pelas universidades ou deslocam-se às mesmas de forma a tomar contacto com os diferentes cursos. 

3- Para uma escolha consciente, aconselho a projetarem-se para dali a 10 anos. Nesta antevisão do que será dali a 10 anos, tentar perceber o que lhes agradaria estar a fazer, profissionalmente, para conseguirem serem felizes. Sim, porque o mais importante é escolher um (per)curso onde se sintam felizes e realizados. 

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