por | 20 Set, 2022 | Louzadense com Alma

Joaquim Gonçalves da Silva, um bombeiro exemplar

Um bombeiro lousadense faleceu há 52 anos durante uma ação de socorro e ficou na história dos Bombeiros Voluntários de Lousada como um símbolo da dedicação ao serviço e à causa humanitária. Chamava-se Joaquim Gonçalves da Silva, natural e residente em Nogueira. Aos 32 anos era visto como um bombeiro exemplar, pois era extremamente dedicado ao socorro dos necessitados. Também se destacou como relojoeiro, ofício que aprendeu com o tio materno Joaquim Gonçalves Júlio. 

“Era um extraordinário artista de relojoaria”, afirma Ramiro Gomes, de 87 anos, seu colega de trabalho na Ourivesaria Neto, que salienta: “ele tinha umas mãos para aquela arte como poucos que vi até hoje”. “Fomos do mesmo grupo de recruta dos bombeiros”, recorda o amigo com saudade.

“O nosso patrão, o benemérito António da Silva Neto, deu-lhe autorização para acorrer em horas de trabalho ao chamamento da sirene dos bombeiros. Por isso, era frequente ver o Joaquim a ajudar sinistrados ou a combater incêndios”, acrescenta Ramiro Gomes. 

A tragédia, que vitimou o cidadão que aqui se destaca, foi uma das mais nefastas da história de Lousada. Aconteceu na tarde de segunda-feira 16 de Novembro de 1970, na sequência do aparatoso acidente de uma ambulância dos bombeiros lousadenses, na ponte de Sobrão (Paços de Ferreira). 

Oito dias depois, o Jornal de Lousada escreveu: “Conforme os jornais diários oportunamente noticiaram, a ambulância dos Bombeiros Voluntários de Lousada teve um grave acidente que roubou a vida a um dos seus abnegados bombeiros e enlutou a Corporação (…)”.

A notícia dessa edição do JL descreve assim os factos: “A ambulância, que era conduzida por António Esteves, fiscal dos cantoneiros municipais, deste concelho, transportava ao Hospital de São João, no Porto, António Pinto, casado, de 34 anos, residente no lugar da Rua Nova, em Nogueira, que em Santa Margarida havia embatido a sua motorizada contra um autocarro de passageiros da empresa Pereira & Meireles, da Lixa, ao chegar ao lugar de Sobrão, Paços de Ferreira, numa curva ali existente, foi embater de frente com um veículo de carga que ocupara a faixa de rodagem, dado que fizera uma ultrapassagem naquele mesmo sítio a outro veículo que tinha parado para dar passagem à ambulância. O choque foi tão violento que o paciente foi projetado para debaixo dos assentos da frente, piorando o seu estado, deixando ferido o bombeiro Joaquim Gonçalves da Silva e alguns ferimentos ligeiros em José Pinto, irmão do doente, que foi cuspido do assento de trás, saindo pelo para-brisas. O condutor António Esteves ficou também ferido e preso nos escombros , de onde foi desencarcerado com recurso a material apropriado”.

Tal como o paciente que estava a ser transportado, o bombeiro Joaquim Gonçalves da Silva não resistiu aos ferimentos e faleceu no hospital. O funeral realizou-se no dia 19, tendo o corpo estado em câmara ardente na sede dos Bombeiros, onde todos os elementos do Corpo Ativo lhe prestaram guarda-de-honra.

CONDECORADO A TÍTULO PÓSTUMO

Pelas 10 horas do dia 19, organizou-se o funeral para o cemitério de Santa Cristina de Nogueira e é impossível descrever tão grande e impressionante manifestação de pesar. Centenas de pessoas acompanharam o féretro e as corporações dos concelhos limítrofes vieram representantes, solidarizando-se com os nossos soldados da paz. Presentes com uma viatura e respetivos estandartes  vieram os bombeiros de Paredes, Penafiel, Cete, Paço de Sousa, Baltar, Freamunde, Paços de Ferreira, Vizela, Felgueiras, Lçixa, Amarante, Marco de Canaveses e os Voluntários Portuenses.

Lindas coroas de flores foram ofertadas pela Direção e Comando, coelgas da Corporação, Ourivesaria Neto, Joaquim Carlos da Silva Magalhães, etc.”, lê-se no referido artigo.

Foi atribuído pela Liga dos Bombeiros Portugueses o Crachá de Ouro, a título póstumo, a 19 de Junho de 2016, “pela prática de atos e serviços altamente relevantes para a causa dos bombeiros portugueses”.

Joaquim Gonçalves da Silva nasceu em 2 de Abril de 1938, quarto filho de Virgínia Gonçalves e José Ferreira da Silva. Cedo se mudou com a família para Arcas, na freguesia de Cristelos. Ainda menor de idade, depois dos estudos primários e preparatórios, foi aprender a arte de relojoaria, na qual ganhou fama. Já maior de idade foi trabalhar para a Ourivesaria Neto.

Casou com Maria Rosa Martins, de Santa Eulália da Ordem, freguesia onde viveram alguns meses, regressando a Nogueira onde se estabeleceram definitivamente e onde tiveram um filha, de seu nome Cristina e que tinha 2 anos por ocasião da desafortunada ocorrência em Sobrão.

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