Manuel Jorge da Silva Machado, natural de Silvares, é um conceituado piloto de rallycross pautado pelas performances de gala. No ano transato, escreveu a página mais bonita da sua carreira ao vencer em terras albicastrenses a Taça de Portugal na magnífica Divisão S1600. Chegou nervoso à entrevista pois é sempre mais confortável pilotar um carro de corrida, porém, depressa entrou no ritmo e abordou todo o seu percurso com bastante classe.
Com 39 anos, o lousadense de gema confessa que o rallycross é o seu hobbie, uma vez que se encontra ligado à indústria têxtil desde o término dos seus estudos. Nos dias de hoje, gostaria de fazer deste a sua profissão, mas as circunstâncias da vida não o permitiram. Todavia, a sorte acompanha-o por fazer aquilo que gosta e jamais afasta a paixão que nasceu consigo.
“Desde miúdo que acompanhava tudo o que se passava na Pista da Costilha e não só”, principia. O desporto automóvel enraizou-se muito cedo em si, deslocando-se à Alemanha para assistir a este. A estima e o apreço natural foram crescendo, paulatinamente.
Em 1998, fez a sua primeira corrida de kartings e venceu. “Tratou-se de uma prova de resistência com vários pilotos de Lousada”, conta acerca da sua primeira experiência no mundo automóvel. Esta aconteceu, na medida em que ainda possuía carta de condução e era a única possibilidade que tinha.
Quando fez 18 anos de idade, de imediato, tirou a carta de condução e em conjunto com o seu irmão alugou um carro para fazer as 6 horas de resistência. Posto isto, estreou-se no rallycross nesta prova. “Foi uma coisa instantânea e tão natural que, desde então, participei em todas as provas de resistência”, sublinha.
O seu percurso iniciou nas provas de resistência, como referido, onde foi vencedor de quatro. Decorria o ano de 2003 quando fez o seu primeiro campeonato nacional de rallycross com muito esforço. No seguimento, relata uma história que originou a realização deste. Na época, pediu ao seu pai ajuda, mas ele recusou. Jorge não baixou os braços e na manhã seguinte – a faltar três dias para o começo do campeonato – dirigiu-se aos fornecedores da sua empresa para conseguir arrecadar alguns patrocínios. “Consegui o pretendido para comprar o carro”, afirma. Nesse ano, realizou oito corridas e subiu a cinco pódios.

Em 2004, não conseguiu fazer o campeonato todo, mas fê-lo quase por inteiro. Após esse decidiu parar e nos anos seguintes dedicou-se apenas a provas de resistência. Em 2011 regressou, porém, para um troféu de velocidade que auferia um preço bastante acessível. “Fiquei com o carro do meu irmão que havia sido campeão um ano antes com ele”, declara. Juntamente com o Avelino Martins, dado que era por duplas, conquistou-o.
Nos anos seguintes continuou em duplas de velocidade, tendo parado em 2014 para se dedicar a provas de resistência. Contudo, há três anos foi surpreendido por um convite para integrar a Divisão S1600 – a mais forte e competitiva categoria – e realizar o campeonato. Mal entrou nesta, disputou o campeonato até à última.
Entretanto, o COVID-19 apareceu. Nessa altura, em 2020, o número de provas foi reduzido e deixou de haver público. Mas, o pior foi não haver a última prova. “O campeonato é composto por 350 pontos, divididos por 7 provas, e eu estava a 6 pontos de ser campeão”, conta. Dadas as circunstâncias más foi cancelado, e, Jorge não auferiu da oportunidade de discutir na pista o campeonato. Sendo assim, acabou em terceiro lugar.
Chega-se, então, ao ano mais vitorioso da sua carreira. “Foi um ano muito bom para mim porque fui vice-campeão nacional e ganhei a Taça de Portugal”, refere em relação ao ano de 2021. O sentimento de orgulho pelo seu percurso irá permanecer para sempre.

Questionado sobre o sentimento após ter vencido a Taça de Portugal em Castelo Branco, Jorge afirma que “foi muito especial”. Desde o início da prova única que começou a sentir que era possível vencer o troféu. Ganhou, de imediato, duas mangas e foi para a final com o primeiro lugar. Chegado o momento do final, no arranque perdeu a primeira posição que, segundo o próprio, é uma das lacunas do “seu” Citroen C2 S1600.

“Entretanto, o piloto que se encontrava à frente começou a dar-me vantagem e comecei a desacreditar. Na 3º volta ganhei uma força interior inexplicável e consegui passá-lo à frente na Joker Lap”, relata. O lousadense ganhou mesmo à última e, posto isto, o sabor da vitória foi ainda melhor. Conforme o próprio, foi uma conquista justa para si e para a sua equipa pois foi um acumular de uma época excelente. “Escrevi a página mais bonita da minha carreira desportiva”, confessa.
Ademais, foi vice-campeão no ano transato que, segundo afirma, foi das épocas mais competitivas de sempre. Muitos participantes, grandes investimentos, carros esplêndidos…caracterizou o campeonato. “Deu-me um prazer extra ficar em segundo lugar num ano como em 2021″, salienta.
De ressalvar que o campeonato, por norma, inicia em março e cessa em novembro. Ser consistente, ter uma boa equipa, não ter azares mecânicos, muita concentração… são alguns dos segredos para uma boa exibição.
Quanto ao presente ano, afirma que “começou bem”. No entanto, foi alvo de percalços em algumas provas. “Estou em terceiro lugar, isto é, a 10 pontos do primeiro lugar e faltam três provas”, sublinha. Tudo pode ainda acontecer e Jorge encontra-se na luta.

O seu sonho é ser campeão no Citroen C2 S1600 porque possui algumas lacunas e que aos olhos de muita gente não se trata de um carro vitorioso. Aliás, este encontra-se em sistema de aluguer. Desta forma, seria um gosto enorme vencer o campeonato com ele. “Adoro desafios e na Divisão S1600 sou o único com carro alugado”, conta.

Ayrton Senna é a grande inspiração e referência do lousadense que, ainda hoje, se recorda do dia da morte deste ícone. A forma deste estar na vida e nas corridas fez com que se apaixonasse, mais e mais, pelo desporto automóvel. “Foi quem mais me marcou, aliás, como piloto e pessoa”, afirma.

“Não sei como vai ser para o ano, mas estou a viver o presente. No entanto, gostaria de continuar na Divisão S1600 pois é a que mais prazer me dá”, responde quando interrogado sobre as suas pretensões. De uma coisa é certa, Jorge Machado continuará entre os melhores.

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