Luís Pacheco: O notável contador de histórias

“Estou orgulhoso do meu percurso”

Luís Ferreira Pacheco, nascido a 8 de março de 1938, na freguesia de S. Fins do Torno, é um cidadão com uma memória histórica díspar. A memória vista simplesmente como matriz da história foi desenvolvida no seu próprio percurso de vida e, além desta, um variado nível de testemunhos conservados nos arquivos da mente. Descubra as suas paixões, desde a terra ao clube do seu berço.

Na época do seu nascimento, a freguesia chamava-se Fins do Torno. No entanto, hoje é conhecida somente como Torno, sendo a última do concelho de Lousada a confinar com outros concelhos, nomeadamente, Felgueiras e Amarante. E, é sobre esta que com todo o entusiasmo aborda na primeira parte da entrevista. 

“Está situada num dos melhores sítios do concelho com vistas panorâmicas a grandes distâncias: vistas do Monte de Santa Marinha; Monte de Cima; Alto do Fogo e Monte da Conceição”, afirma denotando o embelezamento aos seus olhos.

O lousadense mora no centro da vila da Senhora Aparecida e a sua habitação está instalada junto ao Santuário da Nossa Senhora da Conceição e da Ermida da Senhora Aparecida. Neste seguimento, realça a Romaria da Senhora Aparecida que com todos os seus divertimentos é admirada por milhares de pessoas de diversos pontos do país e estrangeiros. A grandiosa procissão com os 17 andores, a arruada de bombos, a corrida de cavalos e motos … são espetáculos, que enumera. 

Diploma do Ensino Primário

Por aqui em diante segue-se com as diversas associações da freguesia: o Aparecida Futebol Clube, o Rancho Folclórico, os desportistas de pesca, entre tantas outras. “Existe todo o tipo de comércio, não sendo necessário o pessoal da vila se deslocar para corresponder às suas necessidades”, sublinha. 

A partir de então, lista um conjunto de serviços nas mais variadíssimas áreas. Ao nível do retalho alimentar: mercados bem abastecidos, talhos de carnes frescas e enchidos e transportadoras a distribuir peixe fresco ao domicílio. No âmbito da restauração, existem diversos restaurantes e cafés. Quanto à saúde: clínica médica com diversas especialidades, fisioterapeutas e farmácias. 

“A nível de serviços, a minha freguesia está completamente bem provida”, salienta. Conforme o próprio, em relação a fábricas e oficinas há bastante pluralidade: madeiras e seus derivados, serralharias de ferro e alumínios, mecânicas de automóveis, armazéns de ferragens e ferramentas para todo o tipo de construções. Ademais, não faltam lojas/escritórios: miudezas, prontos a vestir, sapatarias, artigos de lar, barbearias, esteticistas, cabeleireiros, ourivesarias, escolas de condução, advogados, contabilidade, solicitadoria, entre tantas outras ofertas que se poderia elencar. 

A estima e admiração pela sua freguesia é de relevar e, além do mais, pelo Aparecida Futebol Clube onde exerceu funções de dirigente e presidente. “O Aparecida Futebol Clube foi fundado em 1931 pelo Sr. José Lopes da Costa e o Sr. Júlio da Cunha Mesquita”, conta. Os primeiros pontapés de bola foram dados no largo da feira da Senhora Aparecida, enquanto se fazia o desterro do primeiro campo. 

A história deste clube foi marcada por altos e baixos e o lousadense relata vários episódios e pormenores desta. No início, fizeram-se diversos jogos amigáveis com rapazes de algumas freguesias vizinhas, sendo estes disputados pelos seguintes atletas: Chelas de Amarante, Francisco Faria, Abílio Lopes Moreira e tantos outros. 

O primeiro contratempo deu-se em 1933 devido a um grande desentendimento com o Lousada. Todavia, passados uns anos, um grupo de amigos decidiu falar com os proprietários de uns terrenos para se efetuar a prática do futebol e conseguiram. “Construído o campo da Barreiras, como era conhecido, atribui-se a designação de Aparecida Futebol Clube”, reforça. 

A partir desta data, começaram a disputar-se jogos com diversos grupos como: Vila Meã, Lixa, Paços de Ferreira e outros. Corria o ano de 1945 quando o campo foi vedado com madeira cedida pelo Caíde de Rei Sport Clube. A inauguração deste ocorreu a 29 de setembro do mesmo ano contra o Marco de Canaveses. 

“Nesta época, houveram episódios dignos de relatar: ia-se disputar um jogo à Livração e um autocarro que levava cerca de 55 a 65 atletas tombou e apenas houveram dois feridos ligeiros. Mais tarde, aconteceu outro acidente devido à trovoada com um autocarro, porém, neste houve um ferido mais grave”, conta. 

Entretanto, o futebol terminou por certas incompatibilidades e o campo foi-se deteriorando até que os proprietários decidiram vendê-lo. Em 1972 havia atletas, mas não havia campo. Surge então o aparecimento de Luís Pacheco que em conjunto com uns amigos reuniu-se a fim de contrair um terreno. “Alguns indivíduos resolveram sem falar com os restantes elementos, nomeadamente eu, construir num terreno próprio”, sublinha. Este terreno não possuía condições. 

Em 1977, houve uma crise diretiva e o lousadense “mexeu os cordelinhos” e arranjou fundos para pagar multas e efetuar a inscrição do clube, bem como criar direção. Nesta altura, era o terceiro campo que ia ao ar. Após alguns acontecimentos, em 1991 falou em conjunto com uns amigos com uns proprietários e a compra ficou acertada. 

A escritura foi celebrada no Cartório Notarial de Lousada por Luís e restantes elementos, aliás, este andou na angariação de fundos para que não se sucedesse o mesmo. O campo ficou oficialmente do Aparecida e, hoje em dia, tem boas condições para a prática do desporto. 

Luís Pacheco na época em que foi presidente e dirigente do Aparecida Futebol Clube

Terminado o tópico do Aparecida Futebol Clube, aborda alguns cargos que desempenhou. “Não gosto da política”, introduz. No entanto, durante o ano de 1979 foi Vereador da Câmara Municipal de Lousada no pelouro da Cultura. Segundo o próprio, fez tudo o que estava ao seu alcance e chegou a pegar na viatura própria para visitar todas as escolas, no sentido de perceber o que era necessário fazer de imediato. 

“A câmara não tinha meios e não queria que nada faltasse aos miúdos. A minha esposa, professora de ensino básico, estava por dentro do assunto e em nossa casa fez um salão onde levava os alunos”, conta. Trabalhou bastante e, não tem dúvidas, que a experiência foi absolutamente boa. 

Quanto à sua afirmação de não gostar de política, o lousadense sublinha que foi inúmeras vezes convidado para presidente de junta mas nunca aceitou. Aliás, sublinha também que nunca foi filiado a partido nenhum apesar de várias abordagens. 

Tem apenas a 4º classe porque aos 11 anos começou a trabalhar. Segundo o próprio, ganhou distinções de melhor aluno e guarda-as com carinho. A partir de então, foi administrar a empresa da família e confessa que sempre teve jeito para gerir cautelosamente tudo. 

Começou como industrial de serralharia, mencionado anteriormente, na fábrica da família e tornou-se gerente. No entanto, o seu percurso passou também por outras áreas onde abriu duas oficinas de bicicletas motorizadas e um café em conjunto com outros sócios. “Na altura, era o maior vendedor de bicicletas motorizadas no concelho de Lousada”, declara. 

Oriundo de uma família humilde de 9 irmãos, onde o lousadense é o 5º elemento. “Damo-nos todos muito bem e somos todos unidos”, sublinha. Com este exemplo de vida, casou e teve dois filhos: um rapaz e uma rapariga. O primeiro, respetivamente, seguiu as pisadas do pai ao nível profissional e a segunda as pisadas da mãe ao nível profissional. 

“Estou orgulhoso do meu percurso”, finda Luís Pacheco com um sorriso no rosto. 

Luís Pacheco

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