por | 12 Out, 2020 | Grandes Louzadenses, Sociedade

André Marques é campeão do mundo de poker

Ganhou quase um milhão de euros a jogar poker

O lousadense André Marques, de 25 anos, é jogador profissional de poker há cerca de três anos e acabou de ganhar quase um milhão de euros no Campeonato Mundial de Poker.

Começou a jogar muito novo, com apenas 16 anos. Primeiro com os amigos, numa brincadeira. Entretanto, foi para a faculdade para se tornar engenheiro informático, mas sempre com o sonho de se tornar profissional do poker. Há três anos surgiu a oportunidade de se candidatar a uma equipa portuguesa. É caso para dizer: chegou, viu e venceu. “Na altura, era algo que eu queria há muito. Quando se proporcionou assinar contrato pela equipa na qual atualmente jogo, aceitei e agarrei a oportunidade”, conta. Neste percurso, contou com o apoio dos pais, que respeitaram aquilo que o filho realmente queria e o ajudaram.

Poker é mal visto pela sociedade

O jogo, e em particular o poker, é visto de forma negativa pela sociedade. André está consciente disso. “É mal julgado pela sociedade por envolver dinheiro diretamente. Todos os desportos envolvem dinheiro, mas, no caso do poker, para jogar temos dinheiro envolvido. O fator sorte é muito mal julgado pela sociedade”, diz. Apesar de o fator sorte existir, principalmente no início, este jogador profissional explica que, com o tempo, acaba por se desvanecer: “Se se trabalhar e for consistente, a sorte deixa de ser um fator. Afeta, se se jogar hoje ou amanhã, mas se se trabalhar bem, é quase certo que se vai ganhar ao longo de um ano. O que quero dizer, é que é possível ser profissional no poker. Há centenas de profissionais em Portugal. Eu já investigava isso e quis experimentar. Se eles conseguiam, também eu conseguiria. Precisava era de mentores, de ferramentas de trabalho e horas para trabalhar”, explica.

André Marques não “trabalha” sozinho. Está integrado numa equipa. Ele explica como funciona: “Somos pagos para jogar. Eles bancam-nos e nós jogamos com o dinheiro dos nossos patrões. Jogamos o que eles deixam. Além disso, temos aulas e ferramentas de estudo. Tenho horas e dias mínimos de trabalho. Eles deram-me as escadas para eu poder subir”.
O prémio não fez dele um homem diferente. Admite a importância do título, que é um marco importante na sua carreira, e do prémio monetário. “Entre o título e o prémio não sei o que é mais importante. Eu sei que à maioria das pessoas o dinheiro é que interessa, mas na verdade o dinheiro vai e vem, mas na verdade o título ninguém mo tira. Daqui a cinquenta anos o meu nome estará lá”, diz.

“O montante que ganho é muito diferente daquele que surge nas notícias”
Apesar do prémio gordo que arrecadou, André esclarece que, na verdade, não irá receber um milhão: “Eu jogo com o dinheiro dos meus patrões e tenho de lhes dar uma percentagem desse dinheiro. Além disso, fazemos trocas de ação, ou seja, dois jogadores da equipa vão jogar no mesmo torneio, no fundo, para eliminar um pouco o fator sorte”. Isto significa que André terá também de dar 10% do seu prémio aos companheiros de equipa que participaram no torneio e receberá 10% do pecúlio angariado por eles. “Se formos a ver, o montante que eu ganho é muito diferente daquele que surge nas notícias, mas isto é muito normal”, refere. André joga nos torneios mais caros que existem e esses exigem uma entrada de mais de cem mil euros, chegando alguns ao milhão. “Os jogadores que lá estão não têm uma banca que lhes possa dar um milhão de entrada. Há por isso ali, troca de ação e venda de ação para o exterior e, por isso, os prémios que aparecem não são assim tão grandes como se vê”, esclarece.

Afinal, o que é preciso para se ser um bom profissional de poker? “A primeira coisa que é preciso é ter é amor e gostar daquilo que se faz. Nesta área, como noutra qualquer, o retorno não é certo. Posso ter uma semana que me corre bem, como posso ter meses sem ganhar nada, a perder. Há variação no jogo, não há um retorno imediato. Podes trabalhar dois, três anos, ganhar algum, mas não ganhar nenhum torneio grande”, responde.
Este torneio foi duro, com muitas horas de jogo. O jogador que deu mais luta foi um holandês com quem travou “batalhas”, que duraram horas. “Na mesa final, começamos 9 e até ficarmos 4 demorou cerca de duas horas, mas com 4 estivemos cerca de três horas e meia para que o quarto saísse”, conta.

André teve alturas difíceis, chegando a estar em último lugar: “O grande marco foi quando estávamos quatro. Cheguei a estar em último, com poucas fichas. O pessoal fala um pouco da força mental. É um bocado complicado, mas aguentei-me bem”. Acabou por conquistar a taça da “Liga dos Campeões”, como gosta de chamar a esta final.

“Não é tudo um mar de rosas, não é tudo o que parece”

Por isso, André Marques adverte aqueles que pensam em enveredar por este caminho: “O que eu diria a um jovem á que tem de pensar duas vezes. Não é tudo um mar de rosas, não é tudo o que parece. Vai demorar a acontecer. Eu, no primeiro ano e meio, não tive resultados. Cinco a seis dias na semana, às vezes sete, a jogar, oito a dez horas por dias, e a estudar muitas horas, para receber os frutos disto ao fim de um tempo. É preciso gosto, vontade e resiliência. É como qualquer desporto. Comparo-o ao atletismo: um corredor trabalha um ano para conseguir fazer uma corrida de 9 segundos”, alerta.

Este lousadense campeão admite, que se pode perder muito dinheiro. Por isso, considera fulcral para se ser um bom jogador de poker estar financeiramente estável. “As decisões custam dinheiro, nós erramos e os erros podem ser caros, mas não nos podemos deixar afetar, porque se não é um efeito de bola de neve”, adverte.

Atualmente, André sente-se mais à-vontade e sem tanta pressão, uma vez que não joga com o seu dinheiro, por estar inserido numa equipa: “Eu posso receber a minha parte sempre que eu quiser, se tiver saldo positivo, mas, se perder, vou ter de dar aquele dinheiro que perdi, para poder receber. No fundo, o meu dinheiro nunca está afetado”, explica.

André Marques está já num patamar mais elevado no que diz respeito ao poker. Dá aulas e é treinador há cerca de um ano.

Grande apoio dos Lousadenses

Lousada está bem posicionada no que ao poker diz respeito. Para além de André, tem mais dois jogadores de referência, que estão na equipa do campeão, e que têm conquistado importantes títulos. “Com o tempo, o pessoal de Lousada tem-me apoiado. As pessoas juntam-se para ver os livestreams, e é com muito orgulho que elevo o meu concelho a um patamar nacional e internacional”, salienta.

O ás do poker deixa um agradecimento a todos os que o apoiaram. “Foram centenas de lousadenses a assistir e que me apoiaram. Desta vez foi surreal, mandaram mensagens, vídeos de família… É bom porque as pessoas reconhecem o meu trabalho e, aos poucos, vão mudando a mentalidade em relação ao que faço”, conclui.

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